Sequestro
Sequestro
Passa.
Passo.
Ato-me ao chão, inutilmente,
Como uma criança ao seu brinquedo.
Ainda em movimento.
Ainda indo.
Retorno:
A mureta,
O caminho,
A lembrança,
A ruína.
Cada grama de concreto
É uma passagem;
Passagem é um sequestro
Onde vive-se mais alto do que a vida ─
Pra trás, pra frente, além.
Reflexo no opaco por derramamento do olhar.
Opaco derramamento por reflexo do alhures,
Que vê
Em mim.
O quê?
Se tá ruim,
Não tem mistério: ou rasteja ou não sai da placenta...
Chego em casa.
Anoiteceu.
Um Escândalo:
Os senhores ainda fogem do escuro;
A juventude ainda goza pra fugir.
Melhor não acender nada ─
Pudor.
A cozinha logo me chama com algo de podre,
E vou, por educação.
Toco o tecido da razão com seriedade,
Feito outra criança com sua bolha de sabão.
Talvez furá-la nos faça rir.
Talvez nada seja mais necessário do que sabão, piada e anoitecer pelos beiços.
[Cai um copo]
Eu gosto de apostas e
Vejo uma passagem...
Talvez seja a hora
Do sequestro. "

O nome da fotografia é "Surrender", ela foi tirada e editada pelo fotógrafo surrealista Tommy Ingberg.
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Alves Maria
Rapaz sério, estudante de Direito, gosta de Filosofia, Literatura, Niilismo e outras coisas riquíssimas em utilidade. Também é socialista autocrítico, mas alérgico a messianismo e projetos políticos fundados em sonho."
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